terça-feira, 23 de outubro de 2012

Para quem nos defende e para quem nos detesta


Vamos comemorar, ganhamos o mundo! Estamos conquistando os espaços e despertando a opinião pública para o debate! Nosso ato repercutiu pelo Brasil todo! Com o apoio de várixs militantes virtuais que apoiam nossa lutam e também com uma mãozinha daquelxs que a condenam! Azar o delxs, continuaremos a luta. Só este blog, teve cerca de 7 mil acessos! Sinal de que estamos incomodando! Chegou ao ponto da Marisa divulgar um comunicado oficial tentando nos mostrar a "graça" do Comercial! Não vi graça nenhuma.
Vieram ataques de todos os lados! Fomos ofendidas, rechaçadas, ao mesmo tempo em que recebemos inúmeras palavras de apoio e força! Queria destacar, que os comentários machistas e opressores que recebemos não diminuíram a nossa luta, tais mensagens nos motivam ainda mais a continuar lutando e combatendo esse tipo de pensamento! Somos da Casa 8 de Março, uma organização feminista que existe no Tocantins há 15 anos, instituição sem fins lucrativos para saber mais sobre nossas atividades acesse o site http://www.casaoitodemarco.org.br! Só para reforçar! Não estamos aqui para brincadeira!

Vou compartilhar o texto que o Robson Fernando de Souza escreveu para o blog Acerto de Contas, em resposta ao post “O ridículo salta aos olhos”, publicado no Acerto de Contas no último 22 de outubro. Segue texto completo do Robson Fernando e link para o texto do Pierre Lucena, dono do blog e do texto opressor.


Marisa: a coerção publicitária não salta aos olhos

Este artigo é uma resposta, com a abordagem do outro lado, ao post “O ridículo salta aos olhos”, publicado no Acerto de Contas no último 22 de outubro. O texto, de forma simplista e refugiada no senso comum, critica a postura do grupo feminista Casa 8 de Março, que protestou na última segunda-feira na frente de uma das filiais das Lojas Marisa no Recife. Usa de um olhar conservador para criticar a ação das feministas, chamando-a de “ato ridículo” e fazendo alusões ao argumento reductio ad absurdum da “ditadura do politicamente correto/pensamento único”. Em relação a essa postura, faço algumas considerações importantes.
Assisti ao vídeo e concluí que ele claramente fez uma apologia ao paradigma da busca pelo dito “corpo perfeito”. Faz apologia à luta pelo corpo magro – e branco, como é praxe na publicidade racista que é hegemônica no Brasil – como se isso fizesse a felicidade da mulher. E consequentemente incita que as moças que tenham mais gorduras corporais do que é tolerado pelo padrão de beleza vigente rejeitem o seu próprio corpo, forçando-lhe mudanças que, se não acontecerem, serão motivo de frustração e infelicidade para elas. E isso, ao contrário do que se desejaria, em quase nada tem a ver com o combate à obesidade e a seus diversos efeitos perniciosos na saúde humana.
A propaganda mostra que dietas rigorosas e outras formas de busca do emagrecimento são necessárias para fazer as mulheres terem “um verão mais feliz”. Condiciona à questão estética um estado de espírito a que, idealmente, toda mulher tem direito. E isso, queira-se ou não, acaba tendo uma consequência negativa para milhões de mulheres que, todos os dias, são coagidas pela sociedade a não gostarem de seus corpos porque têm alguns quilos a mais do que as mulheres magras idealizadas pelos meios de comunicação. Porque se passa ali a mensagem de que praticamente só se aproveita bem o verão sendo magra como uma modelo europeia, independente de autoestima, amizades, amor, lazeres e outros elementos essenciais da vida.
Esse comercial não é o único ou principal anúncio modelador de comportamentos femininos, sendo um entre tantos que coagem as mulheres a não aceitarem ter um corpo “imperfeito”. Mas faz o papel de ajudar nessa modelação, tendo o diferencial de realçar a “importância” de se fazer regime para só assim a mulher amar a si mesma.
E tem o agravante de deixar a interpretável impressão de que apenas mulheres magras são o público-alvo da Coleção Alto Verão Marisa. Passa a mensagem sutil de que ”se você moça quer ser bonita com as roupas que vendemos, vai ter que fazer regime intensivo nos dois meses que restam antes do solstício de verão, senão nossa coleção não lhe servirá e por isso você será menos bonita e feliz do que é”.
O texto diz que a propaganda da Marisa é apenas “um comercial onde uma mulher bonita passa e chama a atenção dos homens”. Mas deve-se prestar atenção: o que é que de fato faz a mulher ser bonita, chamar a atenção dos homens e tematizar a narração? A resposta a essa pergunta vai permitir que a pessoa perceba o que há de ruim no comercial. Além disso, por tudo o que é falado nesta resposta, a propaganda em questão não é só isso.
O anúncio das Lojas Marisa reforça a coerção cultural pela qual as mulheres devem ser magras (e brancas) para serem felizes e apreciadas. E é contra essa coerção, da qual a propaganda em questão é um tipo de cereja do bolo, que a Casa 8 de Março protestou, protesta e protestará sempre que um comercial coagir as mulheres a lutarem contra o próprio corpo por fins alheios a questões de saúde.
Ao contrário do que o senso comum acredita, comerciais têm significações profundas, e estas são muitas vezes coercitivas, modelam impositivamente comportamentos e discriminam quem foge ao padrão de beleza e comportamento divulgado.
Retornando ao texto aqui respondido, outro aspecto dele que critico é ter dito que “reclamar da ditadura da beleza e da magreza é simplesmente ignorar que gosto não se discute, já que cada um tem o seu”. Nessa frase, o autor esquece ou desconhece que a beleza e seus padrões são uma construção sociocultural – como diria Émile Durkheim, é um fato social, um fenômeno humano que, exterior ao indivíduo, exerce um poder coercitivo, seja explícito ou sutil, sobre ele.
Gostos pessoais não vêm simplesmente de dentro da pessoa. Não vêm de um livre arbítrio puro. São, ao invés, frutos de anos ou décadas de socialização e enculturação, nos quais o indivíduo “aprende” que uma cor é mais apreciável que outra, que uma roupa é mais bonita que outra, que um estilo musical é “bom” e o outro é “ruim”, que um gênero “deve” se comportar de tal forma sob pena de estigmatização… E isso se soma à experiência de vida de cada pessoa, a qual permite a individualidade e impede a existência de gostos e convicções políticas unânimes.
Em outras palavras, se a maioria dos homens heterossexuais brasileiros tem preferência por mulheres brancas, é porque as influências culturais recebidas os condicionaram a preferi-las, e a individualidade não impediu isso. As experiências de vida impedem que essa preferência seja unânime, mas não são suficientes para equiparar, por exemplo, o número de homens que gostam mais das brancas, o dos que curtem mais as negras, o dos que apreciam mais as pardas (morenas escuras) e o dos que preferem as que têm traços indígenas ou orientais fortes.
Somando isso ao fato de que a mídia mainstream em geral tem um viés racista de invisibilizar e/ou estigmatizar as negras e os negros e supervalorizar a beleza branca e magra (feminina) ou musculosa (masculina), somos levados a notar que não é coincidência que tantos homens prefiram como padrão de beleza máximo as mulheres brancas, magras e de olhos claros. Tampouco isso é uma questão exclusivamente individual e de livre arbítrio.
Em relação ao argumento ad absurdum da “ditadura do politicamente correto”, ele ignora que os chamados “politicamente corretos” estão lutando justamente contra uma ditadura sutil em que vivemos: aquela onde impera como únicos padrões aceitáveis de ser humano o homem branco, musculoso, materialista, consumista, endinheirado, cristão, onívoro e sem necessidades especiais e a mulher branca, jovem, magra, materialista, consumista, endinheirada, cristã, onívora e sem necessidades especiais.
Nessa ditadura, negros(as), pobres, vegetarianos(as), não cristãos, anticonsumistas, dotados(as) de sobrepeso etc. são os reprimidos pela ditatorial (mas sutil) coerção social, forçados à exclusão e à vergonha de serem o que são. E essa coerção vem das mais diversas formas: publicidade, jornalismo conservador, “humor politicamente incorreto”, novelas, filmes, bullying escolar ou virtual…
E um detalhe curioso do argumento da “ditadura do politicamente correto” é que ele não tolera que as pessoas não gostem de comerciais, piadas(?), programas de TV etc. “politicamente incorretos” e os critiquem, usando de pronto a acusação de que estaríamos querendo implantar uma “ditadura” quando expressamos nossa discordância e descontentamento. Em outras palavras, a acusação de “ditadura” é ela própria uma ação autoritária, ditatorialesca.
E em outra parte do texto, antes do final, afirma-se: “Aliás, não entendi o que isso tem a ver com machismo, como supõe o cartaz da mulher [da Casa 8 de Março], já que isso atinge tanto homens como mulheres”. Tem muito a ver. O comercial da Marisa “ensina” que a mulher deve esculpir um corpo magro para ser valorizada pelos homens, e realça um tradicional valor machista de nossa sociedade – o de que beleza é algo obrigatório para uma mulher ser valorizada e respeitada, ao mesmo tempo em que isso não é tão necessário assim para homens.
A coerção da mídia acerca do padrão de beleza não simplesmente “atinge tanto homens como mulheres”. Atinge muito mais as mulheres do que os homens. Para eles, beleza é um acessório que apenas às vezes é recomendado. Já para elas, torna-se um item obrigatório e exigido, sem o qual elas serão marginalizadas, tratadas como cidadãs de terceira classe – abaixo das mulheres bonitas e dos homens.
O paradigma de sempre valorar a mulher pela feição estética e apenas ocasionalmente fazer o mesmo com o homem é machista. E as Lojas Marisa, assim como quase todos os outros comerciais de moda feminina, exploram isso em seu anúncio, quando colocam a mulher como tendo que “obrigatoriamente” distribuir beleza aos olhos dos homens para ser valorizada, prezada e feliz. Por outro lado, isso quase não se vê nos comerciais de moda masculina. Dificilmente vemos nestes últimos a mensagem sutil de que o homem precisa ser bonito para ser apreciado, respeitado e gostado pelas mulheres. Por isso há razão no cartaz da integrante da Casa 8 de Março.
E falando nesse cartaz, ele não se dirige apenas à infeliz propaganda em questão, mas também a toda a tradição da mídia brasileira de reforçar o costume da supervalorização da beleza feminina branca e magra, em detrimento de qualidades abstratas como o caráter, a inteligência e o talento, como prerrequisito para uma mulher ser respeitada. Nessa tradição, o comercial da Marisa é só um pedaço da ponta do iceberg – o que, porém, não o torna menos passível de protestos, tampouco o desprovê do caráter emblemático que ostentou.
Julgar um comercial como o da Marisa, onde as mulheres são reforçadamente coagidas a rejeitar o próprio corpo e lutar contra ele para terem “um verão mais feliz”, a despeito de suas qualidades interiores, como “tudo bem” e ainda por cima desqualificar de forma tão pejorativa aquelas e aqueles que enxergaram sim significados discriminatórios nesse anúncio é deixar de observar as entrelinhas de cada fenômeno social que determinam a infelicidade de muitos e o privilégio prestigioso de poucos.

Texto "O Ridículo salta aos olhos", de Pierre Lucena, postado no blog Acerto de Contas 
http://acertodecontas.blog.br/atualidades/o-ridiculo-salta-aos-olhos/

8 comentários:

  1. Eu vou pelada, mas nunca de Marisa!!! Perfeito, garota! bjos

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  2. Todo o apoio a vocês, companheiras!

    Por favor, se vocês tiverem contato com a pessoa que criou a petição, peça que inclua "de todas as CORES e tamanhos", pois a publicidade da Marisa não coloca mulheres negras em nenhum comercial.

    Abraços do FEMICA.

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  3. Já entrei em contato sobre o ponto que você destacou Jarid. Aguardamos o retorno agora!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Feito Jarid..
    "todos os tamanhos e cores"

    http://www.change.org/pt-BR/peti%C3%A7%C3%B5es/m%C3%A1rcio-goldfarb-presidente-das-lojas-marisa-fa%C3%A7a-um-comercial-que-valorize-as-mulheres-de-todos-os-tamanhos-e-cores

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