terça-feira, 26 de junho de 2012

Sobre Adolescentes em Conflito com Lei, Imprensa, Agenda Social – direitos velados e omissão da imprensa



Um relato sobre a experiência do Seminário da Andi – Direitos em Pauta


Tirei um tempinho para escrever sobre o melhor Seminário que já participei até hoje – Direitos em Pauta – Imprensa, Agenda Social e Adolescentes em Conflito com a Lei, realizado entre os dias 22 e 24 de maio de 2012, em Brasília. Um tanto atrasada, ok, ok, mas já dizia o ditado popular “antes tarde do que nunca”, que está mais pra preguiçoso do que popular. E olha que eu devia estar escrevendo sobre a Cúpula dos Povos, mas tenham fé. Rs!

Enfim, já participei de alguns seminários, não muitos.
Mas, confesso, que o aprendizado que ANDI nos proporcionou nos três dias eventos não tem preço. Não estou aqui para tecer elogios e pura e simplesmente encher a bola da ANDI, para isso já tem uns trezentos e tantos jornalistas amigos da criança, (os famosos Jac’s), a mídia brasileira tem agora 362 jornalistas mais aptos do que eu para este discurso.

E a ANDI também não precisa disso, quem conhece sabe, assim também como a pequena parcela da imprensa, que está atenta aos direitos humanos, em especial de crianças e adolescentes, sabe a importância que os estudos realizados pela ANDI representam para uma cobertura mais responsável para o tema. Os que se importam, é claro, com isso.

Vi-me perto de temas tão conflituosos e necessários. Como somos cegos em relação há tantos temas de interesse público que nos são omitidos cotidianamente pela grande imprensa. Dentro dessa questão dos Adolescentes em Conflito com a Lei, discutimos  a  realidade vivida por esses adolescentes e a necessidade de vencer o preconceito em relação a eles; a ética e o compromisso com a defesa de direitos; como a mídia pode contribuir para o respeito aos direitos dos adolescentes em conflito com a lei; como vencer o estigma da violência em comunidades da periferia por meio da fotografia; sobre o tratamento do jovem como sujeito de direitos e;  a defesa da pauta positiva pela imprensa.

Nessas discussões, percebemos que a realidade em países da América Latina e também no Caribe não é diferente. Vários pesquisadores e jornalistas que atuam nessa temática expuseram suas experiências e nos levaram a acreditar que há muito por fazer, em todos os cantos do mundo.  Os problemas são os mesmos, em quantidades diferentes, mas a importância dada pela imprensa também é a mesma.
Fiquei me questionando como podemos, enquanto jornalistas e cidadãos, ajudar de alguma forma. Ouvi relatos maravilhosos, embora, tristes ao mesmo tempo. No caso dos jornalistas, podemos começar tirando o nosso Código de Ética da gaveta, consultá-lo de vez em quando, no  mínimo, e defender uma pauta positiva e acima de tudo, uma cobertura responsável. Adolescente não é menor infrator. Adolescente é adolescente, criança é criança! Básico. Alguns termos utilizados pelos jornalistas agregam certa carga negativa e contribuem para produção de estigmas e esteriotipos, por exemplo.

Debatedores como os  jornalistas  Demétrio Weber (O Globo), Mauri Konig (Gazeta do Povo), Estevão Damázio (CBN) e  a professora Márcia Detoni (Universidade Mackenzie) concordaram que é preciso mudar o enfoque factual das coberturas e apostar em contextualização e humanização. É preciso considerar o ser humano, seus direitos e o contexto dos fatos reproduzidos, e o mal que eles podem causar.
Uma das conclusões tirada do seminário, embasado num estudo de mídia realizado pela Andi, foi que a cobertura da imprensa é pautada por estereótipos quando o assunto é adolescente em conflito com a lei. É preciso dar voz e vez aos adolescentes, buscar a diversidade das fontes ao invés de se basear apenas no relato oficial, afinal, esses seres humanos têm o direito de se defender, de contar o seu lado. Aprendemos isso como lição básica das técnicas de redação em jornalismo. “ouvir todos os lados da notícia”.

Imagens que vencem o estigma
As pessoas tendem a acreditar que são como são apresentadas pela mídia. A menina da favela acredita que sempre será a menina da favela, por exemplo.  Os moradores das favelas se vêm como pessoas isoladas, uma vez que a grande mídia apresenta a favela como uma área isolada, não desenvolvida, violenta, sem beleza, e cheias de problemas. O fotógrafo João Ripper, defensor dos Direitos Humanos e autor de imagens belíssimas com olhar sensível, destacou que é possível vencer o estigma da violência em comunidades da periferia por meio da fotografia. “Precisamos refletir sobre a construção jornalística. Se as pessoas têm uma beleza não mostrada, elas acreditam em como são pintadas pelos meios de comunicação”. É preciso alterar os padrões da cobertura e considerar que a informação é um direito de todos, como pontuou Ripper.

Nessas idas e vindas, há sim um caminho
Acredito que vencer o preconceito é o primeiro desafio dos jornalistas e o primeiro passo para se construir uma cobertura jornalística que possa contribuir para o respeito aos direitos dos adolescentes em conflito com a lei, e assim levar esse debate de forma aprofundada e qualificada aos outros colegas jornalistas, especialistas, gestores públicos e, a sociedade.  O seminário foi uma oportunidade riquíssima para o debate e, sobretudo, troca de experiências entre os diversos atores e atrizes que atuam na temática de Direitos Humanos e, principalmente, em defesa dos direitos de crianças e adolescentes em conflito com a lei. Precisamos vencer esse estigma de que a violência vem só das comunidades de periferia, investir no protagonismo e tratar nossos jovens como sujeitos de direito.

Com informações da ANDI